sábado, 30 de dezembro de 2006

"O Amor Não Tira Férias" - Nem no Natal, bolas!!

"O Amor Não Tira Férias" é uma comédia natalícia que fala sobre mudanças de vidas por causa de novos ares. Iris Simpkins escreve para uma coluna sobre casamento, bastante conhecida, no Daily Telegraph, de Londres, e está apaixonada por um homem que vai se casar com outra mulher. Do outro lado do globo, Amanda Woods, dona de uma próspera agência de publicidade especializada em produzir trailers de filmes, descobre que o seu companheiro tem sido infiel. Duas mulheres que não se conhecem e moram a 9.650 quilómetros de distância se vêem em situações... não muito distantes. Decidida a não passar o Natal na sua cidade, Amanda descobre um site na Internet especializado em intercâmbio de casas e está decidida que a cabana de Iris no interior da Inglaterra será o antídoto perfeito para os seus problemas. Impulsivamente, as duas concordam em trocar de continente e de casa por duas semanas. Iris chega a Los Angeles num dia espectacularmente ensolarado e logo conhece Arthur, um famoso roteirista da Era de Ouro de Hollywood, e Miles, um compositor de cinema que trabalha com o ex-namorado de Amanda. Enquanto isso, quando Amanda começa a aconchegar-se à solidão de uma cabana isolada numa cidadezinha coberta de neve, o irmão de Iris, Graham, bate à porta. Numa inesperada mudança de planos, as duas mulheres acabam por descobrir que as melhores viagens são aquelas em que se deixa toda a “bagagem” para trás.
Pois é!! Após um convite mais ou menos inesperado (ou nem tanto assim...) o filme desta sexta-feira foi "O Amor Não Tira Férias". E, acabado de chegar do cinema, não resisti a falar-vos um bocadinho do filme e da semelhança da história do mesmo com as vidas de, pelo menos, três de nós que assistimos ao dito.
Quanto a mim, gostei do filme. Uma comédia romântica, levezinha mas com muito conteúdo (algum mais hilariante que outro) que nos põe a pensar que, afinal de contas, as nossas vidas, por vezes, têm algo de "hollywoodesco"...
Não terá sido, de todo, o filme certo na altura certa exactamente por isso. Situações muito semelhantes, frases já ouvidas, posturas já presenciadas, atitudes muito semelhantes... Por tudo isto, e para quem sabe do que tem sido a minha vida nos últimos meses, parece que tenho um bocadinho de Amanda, de Iris e de Miles dentro de mim. Ora, se já não é fácil viver comigo, imaginem ter mais três personagens "cá dentro"!! eheheh
Muito paralela a atitude de "esperar que os ventos mudem a ver se pinga qualquer coisa para este lado"... muito paralela a atitude de "estou aqui para ti sempre que queiras"... muito paralela a atitude de "não te quero perder e estou aqui num vale de lágrimas pela nossa amizade"... Enfim, demasiado paralelismo para mim!
O ainda mais incrível foi sentir que estou mesmo muito (demasiado) perto de soltar a Amanda que "habita cá dentro" e deixá-la fechar a porta na cara do Jasper que deambula pela minha vida. Tal como ela, nunca pensei que essa hipótese viesse a ganhar contornos reais... mas é a mais pura das verdades.
E, pronto, agora que vos deixei com uma breve síntese do filme (que não é da minha autoria) e com este meu desabafo, vou ver se durmo que as horas são tardias (3h22m) e, como diria a grande Vivien Leigh encarnando Scarlett O'Hara "Tomorrow is another day..."
"Sobrinho", aqui está um primeiro post sobre "o" assunto... eheheh
Voltem que eu vou voltar, com toda a certeza. Se este for o último post de 2006, votos de um Feliz Ano 2007 a todos. Para mim, espero que seja BEM melhor que o último trimestre...
Beijos e abraços.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Metade...



"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que o homem que eu amo seja sempre amado, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que digo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.


Que esta minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é plateia e a outra metade, é canção.


E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também.


Oswaldo Montenegro"



O género do autor ou do protagonista do texto é-me pura e simplesmente indiferente... a mensagem, essa sim, é absolutamente fabulosa. E, como tal, não resisti a partilhá-la convosco, tal como fizeram comigo. Obrigado, Patrícia S.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Elogio ao Amor



"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido.Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade,ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia,são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.
Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que >não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.
Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se podeceder.
Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso
Digam o que disserem, uma coisa não se pode negar: este homem escreve que só mesmo ele! Sintam-se à vontade para dizer de vossa justiça.