
Eu sei que já passaram uns dias (o Festival ocorreu no passado dia 10), mas, como espectador assíduo deste evento do canal público de televisão, não poderia deixar passar em branco tal acontecimento.
Devo começar por destacar o facto de se ter voltado ao método "antigo" que se traduz no convite a alguns compositores para apresentarem canções a concurso, na escolha de bons intérpretes (alguns nem tanto, é um facto) e no verdadeiro espectáculo de música e coreografias que enchia salas de estar nas casas de cada um, todas as noites do dia 7 de Março de cada ano (dia do aniversário da RTP), com espectadores colados aos écrans como se a Araldite ("a cola que cola cientistas ao tecto") se tivesse aproveitado de um momento de distracção.
Mas a razão principal que me levou a escrever algo acerca do Festival RTP da Canção deste ano foi, sobretudo, a forma pouco digna e pouco simpática como o público presente na sala se manifestou em relação à vitória das Non Stop com a canção "Coisas de Nada" (e não "Vem Dançar" como vinha noticiado no Correio da Manhã do dia 12 de Março). É certo que não foi a totalidade da audiência a manifestar-se, foram tão somente os familiares, amigos e apoiantes da Vânia de Oliveira (sim, a Vânia das Delirium), intérprete da canção que ficou classificada no segundo lugar após o desempate segundo as regras do concurso.
É isto que eu não entendo!! As regras do que quer que seja, quando são impostas, são-no para todo e qualquer participante. As leis do nosso país também o são para todos os cidadãos ou, pelo menos, é essa a função das leis. Ok, a canção da Vânia, "Sei quem sou Portugal", tinha menos palavras na língua inglesa!! Logo seria, supostamente, uma canção "mais portuguesa". E depois?! As canções estavam em pé de igualdade, foram criadas da mesma forma, apresentadas da mesma forma, no mesmo dia, no mesmo certame, votadas pelo mesmo júri na sala e pelo mesmo júri espalhado pelo país que fez o favor de telefonar. Então porque é que não havemos de ser civilizados e aceitar que o resultado da aplicação das regras é soberano?!
Não só faltaram ao respeito às vencedoras como também aos apresentadores de serviço na noite que, excepção se faça ao Jorge Gabriel, foram magníficos, em especial a Helena Ramos e o Eládio Clímaco. Não é admissível um comportamento daquele género, com assobios e apupos entre estridentes gritos de "Vânia... Vânia... Vânia...", de pessoas que se julgavam capazes de tomar a decisão de escolher quem melhor representaria o nosso país no Festival Eurovisão da Canção, a realizar no próximo mês de Maio em Atenas, Grécia. Pelo menos eu, meus amigos, não acho normal esta postura!!
E não estou a defender esta ideia por terem sido as Non Stop e por conhecer a Rita, um dos elementos, desde os dois anos de idade (aposto que ela já nem se recorda de mim). Nada disso! Eu até sou daqueles que gostava da canção da Vânia, falava directamente do nosso país!! Mas tenho que concordar com o João Gobern, um dos elementos do júri da sala, quando este declara ao Correio da Manhã o que passo a citar:
« "A Vânia, a nível da interpretação, foi a melhor das cantoras da noite. A canção é que, a meu ver, não era tão boa como a das Non Stop”, explicou João Gobern, membro do júri. “‘Coisas de Nada’ tem uma mistura de pormenores de âmbito dos Abba com ambiente das Doce e momentos fabulosos e divertidos no arranjo. Quando as pessoas ouvirem com atenção perceberão que é muito menos ‘música a metro’”, disse o crítico de TV. »
Meus caros, as palavras não são minhas e confesso que só as li momentos antes de começar a escrever o post. Mas concordo em absoluto! Todos sabemos do sucesso mundial dos Abba após a vitória do Eurofestival em 1974 com "Waterloo" e é sabido nos circuitos que as Doce ainda hoje são recordadas no estrangeiro pelo "Bem Bom" que levaram a Harrogate em 1982.
Posto isto, só me resta desejar muito boa sorte às "miúdas" e que se vinguem dos gregos pelo que nos fizeram no Euro 2004. :-) Até ao próximo post. Fiquem por aí...