quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Metade...



"Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.


Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que o homem que eu amo seja sempre amado, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida mas a outra metade é saudade.


Que as palavras que digo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a uma mulher inundada de sentimentos.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.


Que esta minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.


Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflicta em meu rosto um doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.


Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba, e que ninguém a tente
Complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é plateia e a outra metade, é canção.


E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... Também.


Oswaldo Montenegro"



O género do autor ou do protagonista do texto é-me pura e simplesmente indiferente... a mensagem, essa sim, é absolutamente fabulosa. E, como tal, não resisti a partilhá-la convosco, tal como fizeram comigo. Obrigado, Patrícia S.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo contigo amigo... é daquele tipo de post que se torna impossivel comentar.. (e tu sabes o quanto gosto de lançar achas para a fogueira...) Brutal mesmo!